Um dia ela decidiu dar uma reviravolta. Jogou tudo pro alto.
Sim, teve um motivo. Seguir um grande amor. Mas esse amor nunca a ouvia... Ela
não entendia o porque.. Tentava a qualquer custo ser escutada mas as palavras se
perdiam no ar... Decidiu ir ao fundo do que a vida lhe proporcionara até então.
Mudou.
Tudo isso serviu como um trampolim para uma mudança. Mas por
mais que tenha tido uma muleta, a mudança aconteceu em seu interior e ela nunca
mais foi a mesma.
Nunca mais ela quis ter um dia igual ao outro. Ela aprendeu
a viver. Aprendeu a aceitar a mudança.
Cada pessoa tem uma função em nossas vidas, essa foi a
função do dito cujo. E os dias amanheceram mais coloridos e as noites
terminaram mais iluminadas pelas estrelas. E o mundo ficou maior. A vontade de
viajar, de conhecer pessoas finalmente floriu.
E o que a psicóloga falava há três anos, aconteceu. Aquilo
que ela acreditava ser coisa do inconsciente, veio à tona. E ela nunca mais foi
a mesma. O objetivo passou a ser a vida,
o viver, principalmente o desconhecido.
E dali ela partiu... Colocou a mala nas costa e se foi.
Sabia que algo a chamava para aquele lugar, simplesmente partiu.
Ouviu de todos que seria mais uma loucura, que era hora de
se assentar, de ter uma vida normal. Mas o que era essa vida normal? Ter um emprego regular, conta no banco,
apartamento alugado, viagem aos finais de semana??? Ela queria mais, queria
verdadeiramente viver e isso implicava em se entregar para os dias, sem saber
como seria o amanhã.
Chegou. Não conhecia ninguém. era noite. Parou no primeiro
hostel que viu. A língua era íntima, um acento conhecido desde berço pela
origem do pai. Se sentiu em casa. Um sentimento de "estou no lugar
certo" tomou conta de seus pensamentos. Adormeceu sem pensar em
nada...entregando-se ao cansaço.
O dia amanhecia. A porta soou...Alguém batia.
Era o dono da pensão. O café estava servido e o serviço de limpeza já começaria. Um convite para "vazar".
Primeira parada a catedral da cidade, precisava entrar em
contato consigo mesma. Não que acreditasse que um templo era necessário para
isso, mas o efeito placebo sempre ajudou e então, porque não usá-lo?
Sentou, ajoelhou, rezou..chorou... Saiu aliviada.
Continuou a caminhada sem rumo. Na verdade o rumo era seu
interior, queria se encontrar. Só não sabia ainda qual caminho tomar.
Foi então que encontrou uma senhora sentada à beira da
fonte. Era idosa. Deveria ter uns setenta e poucos anos... falava sozinha.
Aproximou-se, sentou, olhou a água que caia..... E então a
senhora comentou....
Tenho um recado.... Hummm??
Um recado das águas.... Siga o fluxo e não reme contra a maré.
Ãh!? ok...
Dia seguinte, partiu daquele pueblo.
A cidade seguinte era toda em volta de um rio. Tomou a
gôndola e se deixou levar.
A cada remada do gondoleiro, ela dava um palpite..E foi então
que se lembrou do conselho da senhora e calou-se.
A Gôndola a levou a
uma torre. A Torre tinha um sino. Ela quis tocá-lo e assim o fez.
Dum...dum...dum...dum
A Vila inteira apareceu e esperou um discurso... Era tradição
na região o sino tocar para alguma autoridade falar.
Ela olhou o povo.... Olhou para si... e calou-se. E então o
povo a aplaudiu... jamais tinha tido a oportunidade de se pronunciar assim e
calou-se.
Aplaudiam pelo silêncio. E então ela entendeu....Aquele povo
queria ser notado... queria ser ouvido. Só o silêncio permitia isso.
E a senhorita foi coroada princesa pelo silêncio que propiciou ao povo. E a partir daquele momento
ela sempre foi ouvida....