domingo, 7 de dezembro de 2014

O novo de novo



E a terra foi vista! Depois de uma longa viagem, seus pés pisaram em terra firme. Era um porto seguro. Um porto protegido.

E pela primeira vez depois de tanto tempo, ela sentia uma paz interior. Pela primeira vez depois de anos, ela deixou de viver em stand by. E os dias foram vividos intensamente e as noite também.

Mas tinha algo que a acompanhava e parecia não ser muito positivo. De vez em quando ele se aproximava, acelerava seus batimentos cardíacos, fazia surgir um turbilhão de pensamentos ao mesmo tempo. Ela ficava em dúvida, recuava, anestesiava-se. Essa era a forma dela se proteger do medo. Anulava sua vontades, ficava fria, acabava jogando com a ausência e a presença. Sentia-se vazia, sem verdade.

Um dia ela decidiu parar. Decidiu  deixar ele vir de vez para ver o que acontecia. E o ar faltou, ela insistiu. E os batimentos aceleraram, ela insistiu. E os pensamentos ficaram confusos, ela focou e insistiu. E então passou.... Passou como uma chuva de verão passa, vem, arrasa, mas passa. E o dia ficou mais ensolarado, e o luar mais iluminado. E as portas se abriram, e a vida fluiu. E as respostas que ela tanto aguardava, de tanto ela insistir, vieram.

Ela vibrou naquela frequência e o mundo girou! Girou 180 graus e trouxe o novo. Ela sabia que teria ainda que lutar para manter-se assim. Viva, inteira, verdadeira. E só assim traria sempre o novo de novo, e de novo, e de novo.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Jump...

Ela nunca teve peito... Ao menos metaforicamente. Deixar tudo de lado, mudanças bruscas, nunca fizeram parte de seu dia a dia.
Um dia ela decidiu dar uma reviravolta. Jogou tudo pro alto. Sim, teve um motivo. Seguir um grande amor. Mas esse amor nunca a ouvia... Ela não entendia o porque.. Tentava a qualquer custo ser escutada mas as palavras se perdiam no ar... Decidiu ir ao fundo do que a vida lhe proporcionara até então. Mudou.
Tudo isso serviu como um trampolim para uma mudança. Mas por mais que tenha tido uma muleta, a mudança aconteceu em seu interior e ela nunca mais foi a mesma.
Nunca mais ela quis ter um dia igual ao outro. Ela aprendeu a viver. Aprendeu a aceitar a mudança.
Cada pessoa tem uma função em nossas vidas, essa foi a função do dito cujo. E os dias amanheceram mais coloridos e as noites terminaram mais iluminadas pelas estrelas. E o mundo ficou maior. A vontade de viajar, de conhecer pessoas finalmente floriu.
E o que a psicóloga falava há três anos, aconteceu. Aquilo que ela acreditava ser coisa do inconsciente, veio à tona. E ela nunca mais foi a  mesma. O objetivo passou a ser a vida, o viver, principalmente o desconhecido.
E dali ela partiu... Colocou a mala nas costa e se foi. Sabia que algo a chamava para aquele lugar, simplesmente partiu.
Ouviu de todos que seria mais uma loucura, que era hora de se assentar, de ter uma vida normal. Mas o que era essa vida normal?  Ter um emprego regular, conta no banco, apartamento alugado, viagem aos finais de semana??? Ela queria mais, queria verdadeiramente viver e isso implicava em se entregar para os dias, sem saber como seria o amanhã.
Chegou. Não conhecia ninguém. era noite. Parou no primeiro hostel que viu. A língua era íntima, um acento conhecido desde berço pela origem do pai. Se sentiu em casa. Um sentimento de "estou no lugar certo" tomou conta de seus pensamentos. Adormeceu sem pensar em nada...entregando-se ao cansaço.
O dia amanhecia. A porta soou...Alguém batia.
Era o dono da pensão. O café estava servido e o serviço de limpeza já começaria. Um convite para "vazar".
Primeira parada a catedral da cidade, precisava entrar em contato consigo mesma. Não que acreditasse que um templo era necessário para isso, mas o efeito placebo sempre ajudou e então, porque não usá-lo?
Sentou, ajoelhou, rezou..chorou... Saiu aliviada.
Continuou a caminhada sem rumo. Na verdade o rumo era seu interior, queria se encontrar. Só não sabia ainda qual caminho tomar.
Foi então que encontrou uma senhora sentada à beira da fonte. Era idosa. Deveria ter uns setenta e poucos anos... falava sozinha.
Aproximou-se, sentou, olhou a água que caia..... E então a senhora comentou....
Tenho um recado.... Hummm??
Um recado das águas.... Siga o fluxo  e não reme contra a maré.
Ãh!? ok...
Dia seguinte, partiu daquele pueblo.
A cidade seguinte era toda em volta de um rio. Tomou a gôndola e se deixou levar.
A cada remada do gondoleiro, ela dava um palpite..E foi então que se lembrou do conselho da senhora e calou-se.
A Gôndola  a levou a uma torre. A Torre tinha um sino. Ela quis tocá-lo e assim o fez.
Dum...dum...dum...dum
A Vila inteira apareceu e esperou um discurso... Era tradição na região o sino tocar para alguma autoridade falar.
Ela olhou o povo.... Olhou para si... e calou-se. E então o povo a aplaudiu... jamais tinha tido a oportunidade de se pronunciar assim e calou-se.
Aplaudiam pelo silêncio. E então ela entendeu....Aquele povo queria ser notado... queria ser ouvido. Só o silêncio permitia isso.
E a senhorita foi coroada princesa pelo silêncio que  propiciou ao povo. E a partir daquele momento ela sempre foi ouvida....





quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Sonho meu: Ouvir... "Terra à vista!"

Ela sabia que teria que enfrentar. Já não havia mais para onde fugir... A correnteza era forte, o vento contra levantava ondas enormes que causavam calafrios cada vez que se aproximavam. Agora a travessia era inevitável. Quanto tempo demoraria para ela chegar em terra firme e se sentir segura novamente?
Não sabia ao certo o que teria pela frente, mas a certeza de que seria no mínimo uma tormenta a atormentava e a amedrontava o tempo todo.
Lembrava das palavras de sua vó - "Isso também passa.. tudo passa nessa vida!"
Era preciso viver o luto, enfrentar a tormenta para chegar a algum lugar. Aliás, lugar esse ainda desconhecido... O que teria lá? Ela se imaginava feliz, sorrindo, girando em uma praia, contemplando o céu e os pássaros, livre. Livre daquele sentimento que a prendia.
Meu Deus, que dor! Chega a ser uma dor física. Uma vontade constante de vomitar, o estômago apertado, a falta de paciência para comer, para trabalhar. Evitar o choro no caminho do trabalho ou durante ele, vinha sendo um de seus maiores esforços. Às vezes, quando não via ninguém por perto se deixava levar pelas lembranças boas e a saudades que doíam fundo e seus olhos se inundavam.
Saber que ela não era culpada, não amenizava sua dor. Saber que jamais teria uma solução era sufocante, desesperador. A única pergunta que lhe vinha á mente era.  Porquê? Porquê? Porquê? E de repente se viu sorrindo...aquele sorriso acompanhado de um movimento triste de suas sobrancelhas...Sim ..ela se lembrou quando ele brincava dizendo que ela perguntava muitos "porquês".
Até mesmo a pergunta que mais lhe atordoava lembrava ele.
Melhor ficar com a frase de sua avó. "Isso também passa...
Tudo passa!". E assim, adormeceu.